Tudo, no Universo, se organiza de forma estruturada e hierarquizada, dos processos mais simples, aos mais complexos, da escala subatómica à imensidão do cosmos. Todos os processos ocorrem, também, de uma forma determinada e previsível, por exemplo , sabemos que dois corpos com cargas eléctricas iguais exercem sempre uma força repulsiva entre eles, e que dois corpos com massa exercem uma força atractiva entre eles, sempre igual ao produto da massa entre eles vezes a constante de gravitação G e a dividir pela distância ao quadrado. Sabemos também que uma molécula de água é sempre constituída por dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio.
No entanto, no Universo, tudo tende a ficar mais complexo, e isso é notório, principalmente, em termos cronológicos. No início, no princípio de tudo, existia apenas a sopa cósmica, um aglomerado enorme de partículas subatómicas em grande actividade cinética, e energia. Mas a temperatura foi arrefecendo, e apareceram os primeiros núcleos atómicos. Só mais tarde, se lhes juntaram os electrões, e apareceram, então, os átomos mais simples: de Hidrogénio, Hélio e Lítio. O Universo expandia-se, e a sua complexidade aumentava também. Fez-se luz! Surgiram as estrelas, depois as galáxias e, um sem número de corpos, ainda muito estranhos para nós. E foi então que, seguindo essa lógica de complexização de processos, surgiu o sistema Solar, de entre milhares de milhões de sistemas, de milhares de milhões de galáxias, e surgiu a Terra, o "Terceiro calhau a contar do Sol".
No princípio a Terra não passava de uma bola de rocha efervescente, expelindo vapores, gases tóxicos e magma. Tudo pareceria, aos nossos olhos subjectivos, desordenado, confuso, apocalíptico e simples. Mas compare-se a estrutura complexa de um mineral, a um simples núcleo atómico, e apercebemo-nos da tanta evolução que já se passara. Compare-se a simplicidade de um mineral à complexidade da vida e vemos que ainda havia um longo caminho a percorrer... Surgiram as primeiras bactérias, depois, muitos milhares de milhões de anos mais tarde, os primeiros organismos pluricelulares, e, sensivelmente, uns tantos milhares de milhões de anos depois, surge o Homem.
Se se repararmos bem, o Homem não passa de um conjunto descomunal desses mesmos processos simples e determinados, que já referi. Atenção, a matéria que nos faz é tão boa ou tão má como a que compõe uma poça de lama (e uma poça de lama é um sistema extremamente complexo!). Os nossos electrões, protões e neutrões são exactamente iguais a todos os outros e as forças em nós exercidas são também as mesmas quatro fundamentais1 exercidas sobre todos os outros corpos. Mas há uma diferença. A complexidade na organização dos processos do homem é tanta e tão diversa, que aqueles processos tão simples deram origem a um sistema tão complexo, diverso, que se tornou completamente imprevisível, ou seja caótico!
É então, que esse ser caótico, começa a desenvolver a habilidade de criar coisas novas e vai desenvolvendo e construindo um novo mundo, tanto, ou mais caótico, que ele. Por ter essa nova habilidade, por ser tão complexo, começa a desenvolver em si, uma noção de controlo e poder. Uma noção, ilusória , de que pode criar, desenvolver e controlar tudo à sua volta. Mas que controlo, que poder é este que não conseguimos evitar algo que aos olhos da natureza é muito mais simples que a vida, a morte?
E, o Homem também se desenvolve e cresce com este novo mundo, tem também a capacidade de se auto-desenvolver, pagando, no entanto, o preço de ficar dependente, das suas tão preciosas coisas. Sim, tudo o que nos rodeia e que nós construimos, por mais estranho que nos pareça, são coisas, como todas as outras, têm tanto valor como uma pedra e são muito menos importantes que uma estrela. Mas nós, seres tão superiores, tão controladores, na nossa arrogância, esquecemo-nos que estamos dependentes dessas coisas e, então, desenvolvemos coisas cada vez mais complexas. Sentimos que somos agora nós que desempenhamos as funções que a natureza, o Universo, desempenhou durante 13 700 milhões de anos! Não estaremos, antes, a desempenhar as funções que o Universo deixou para nós?
Assustador!? Claro! Estamos tão seguros de nós, do nosso poder, do nosso domínio, que nos esquecemos de tudo o que nos trouxe até aqui, de tudo o que nos rodeia. É também esse poder, essa ambição, arrogância e ganância que nos leva aos ódios, às disputas, à violência, à guerra... Pode-nos levar à nossa auto-destruição!
Mas foi também essa ambição que nos fez saltar do fogo para a roda, da roda para a roda dentada, para a máquina a vapor, para a electricidade, para a computação, para a robótica. E agora, temos robots que constroem robots, programados por homens é certo, mas, vejam, já somos capazes de criar coisas que constroem outras coisas. E depois, vem a velha questão: A máquina ganhará a capacidade de se desenvolver sozinha, (sem a necessidade do Homem, saliente-se) e tentará tomar o "poder" que o Homem detém há milénios?
Penso que não. Porque é que o Homem luta? Porque é ambicioso, tem sede de poder. Mesmo que se programe a máquina para funções destrutivas, a máquina não tem desejo de poder, ou seja, destruirá apenas porque a programaram para tal. Não ambiciona chegar ao poder. É algo que não se pode programar, nem se consegue desenvolver num autómato.
No entanto, ironicamente, o Homem já deu o poder à máquina. Na nossa dependência tão forte das coisas que críamos, há muito que entregámos o poder às máquinas. Nós precisamos de máquinas não só para os cálculos complexos, mas para coisas tão simples como nos deslocarmos, nos divertirmos, para trabalharmos, para fazerem as nossas roupas, para limparmos as nossas casas, para lavarem as nossas roupas, para conservar e fazer a nossa comida, para comunicarmos. Já viram que, sem sabermos, sem haver a tão recorrentemente enunciada, guerra do Homem vs Máquina, as máquinas nos ganharam o nosso adorável poder?
Perdemos, meus amigos, nós perdemos porque fomos ambiciosos demais e, então, sacrificámos algo que julgávamos impossível nos tirar, Nós sacrificámos a nossa liberdade à tecnologia. Vendemos, aquilo que temos de mais parecido com o poder, para nos tornarmos mais "evoluídos" e "desenvolvidos". Por isso, nós não nos paramos de surpreender. De tão complexos e imprevisíveis que somos, somos a espécie mais abominável à superfície da Terra, continuamos no entanto, a acharmo-nos a espécie mais adorável e perfeita... Quando, no entanto, não passamos de CAOS!!!