sexta-feira, novembro 02, 2007

Entre a Chuva Dissolvente

No meu caminho de casa, dou comigo na corrente dessa gente que se arrasta. Pelo túnel do metro, no meio da confusão vejo toda essa multidão que faz o dia-a-dia sem destino. Muito poucos elementos dessa massa imprevisível de pessoas - a multidão - têm um destino, que não seja o das suas casas, o das compras, o de um pouco de diversão com os amigos, poucos têm intrínsecos neles um objectivo de vida, algo por que valha mesmo a pena lutar.
Têm um emprego que vai dando para suportar as despesas do quotidiano, quiçá a passeata ao Domingo, quiçá o almoço fora ao fim-de-semana, mas muitos daqueles que sonhavam ser super-heróis, astronautas, marinheiros, futebolistas, olhem para eles, agarrados a um PDA, ou de phones nos ouvidos, ou de braços cruzados, vendo a vida passar-lhes lenta e custosamente ao lado.
E esses são os que sonharam alguma coisa, pois muitos, nem nunca sonharam ser alguém, viveram desde crianças com o simples intuito de ir vivendo, de ir fazendo a vida, com aquela expressão muito portuguesa "cá se vai andando...".

E esses putos, que cresceram sem se ver, bastou pô-los em frente da televisão, em dois anos ou menos, saltam da fantasia do Disney Channel ou do Canal Panda, para a vida da noite. Não são, já, raros, os casos dos e das jovens que se iniciam na vida nocturna, nos bares e nas discotecas aos 13 anos de idade. E das gomas e dos chocolates passaram para o maço do tabaquito, e depois para o cannabis e para o Ecstasy e depois as drogas mais pesadas.
Depois há as misturas. Mistura-se tudo. Temos os shots misturados com ecstasy, com Xanax, com Viagra, e temos essas pessoas, esses que deviam ser os homens de amanhã, mergulhados no vício, com o corpo, o cérebro e a personalidade destruídas. E tudo, só porque queriam experimentar, porque queriam ser os mais cool daquela festa.
E porque queriam ser as mais cool da festa, e estavam podres de bêbedas e completamente possuída por alucinoigéneos e misturas francamente perigosas, deixaram-se ir na onda, e deixaram-le levar por um grunho qualquer, que, perdoem-me a expressão tão baixa "queria mandar a foda!". Deixam-se levar e esquecem-se ou querem-se esquecer dos preservativos (já me lembrei...Já me esqueci!) E depois queixam-se que estão grávidas aos 13, 14 ou 15 anos. Por uma noite inteira de prazer lixaram toda uma vida cheia de sonhos, projectos para um futuro perfeito, ou então não...
Sim, porque muitas vivem só para as compras e para serem as mais cool, e não têm um projecto de vida, algo pelo que lutar... É uma geração que tem tudo o que quer e nunca precisou de lutar por nada, talvez por isso uma geração rasca. E com os rapazes é igual. Ler a Bola e o Record, comentar Hi5 e Fotologs das miúdas, sim! Projectos para o futuro!? Que os façam os meus pais... Parece ser uma juventude algo desinteressada, algo indiferente ao que se passa, mas é de facto o que se passa. Quantos da minha idade estão interessados se está o Sócrates no governo ou outro ladrão, quantos desses jovens sabem de facto, a importância do 25 de Abril, quanto mais quem foi Salazar ou Álvaro Cunhal? Se souberem dizer que o Mário Soares é um velho bochechudo já têm o QI acima da média!
Enfim, esta juventude está perdida!
Sim, pareço as velhotas de sessenta e tal anos no corte e costura, mas em muito do que dizem têm muita razão. Antes procurava-se um emprego para a vida, uma mulher para a vida, uma família. Hoje procura-se o imediato, o inconsequente, o descartável. É o amor descartável e material, é uma bebedeira das fortes, esquecendo a ressaca do dia a seguir, é o esbanjar o dinheiro para dançar uma noite inteira ao som de dois acordes (e já é muito) e puntz-puntz! Os pais pagam! E não só pagam, como os negligenciam desde as dez ou onze da noite e vão buscá-los às tantas mais algumas. O que recebem? No mínimo uns insultos ingratos, no máximo um neto inesperado.
E eu podia estar aqui a falar e falar, a comentar, dissertar, tanta, mas tanta coisa, que está mal nesta juventude, nesta geração maioritariamente rasca na qual me insiro, unica e exclusivamente por ter a mesma idade, mas prefiro também deixar espaço aos leitores nos comentários para dizerem o que vai mal nesta juventude... O que vai mal neste mundo tão rotineiro... O que leva tanta gente à corrente desta gente que se arrasta...

13 comentários:

Casemiro dos Plásticos disse...

e a vida passa né?
sem pensar muito um dia destes tamos com 7 palmos de terra em cima, é triste e estranha esta coisa chamada vida...

quintarantino disse...

O que vai mal nesta malta é que se perderam valores, referências e se pensa que tudo tem de ser vivido a "abrir"... digo eu!

Aline Cedrac disse...

Sabes Tiago...nós nunca nos arrastaremos por essa multidão.Não.Não porque somos fortes.Tu dás-me força.Algo que colossal que me invade nos momentos mais incríveis...quando eu sinto que necessito de algo...de alguém...'to fill in my pain'. És um resistente. Somos uns resistentes. A arma com que combatemos: o amor.

Beijo!*.*

Astray disse...

Pois é disseste-a bem dita!
Raparigas que engravidam dum bêbado qualquer e depois vão ás tardes da julia para que fiquem todos com pena delas e dos putos, não me fodam, isto é um completa hipocrisia. Essa gente é toda igual, querem é ir ás compras para o vasco da gama ao fim de semana e depois irem apanhar uma moca na disco ao som de um computador de um gajo que finge que toca, mais um vez não me fodam!

Espero que recebam o que merecem, que eu passe por entre a chuva dissolvente e que continue a acreditar que nem todos são assim!

mac disse...

Toda a gente se arrasta na multidão...é só observar as pessoas que saem dos barcos ou do metro para o trabalho. Montes de gente a sair que nem gado das carruagens e a atravessarem todas a rua para irem à sua vida. E infelizmente, também pertenço a essa multidão.

Diferente desta multidão, é aquela outra que se arrasta na lama da vida: vão para a noite porque não querem parecer betinhos perante os amigos, enfrascam-se de álcool para não serem "cortes", curtem com os srs drs. de capa e batinha numa queima das fitas para serem aceites. Mas quando amanhece, e o sol volta a iluminar todos os cantos, é ver o degredo à volta...

Anónimo disse...

é verdade que esta juventude não tem ambições, mas felizmente que existem muitas excepçoes e são estas excepçoes que vao fazer a diferença.

quintarantino disse...

Bom fim de semana, amigo!

Anónimo disse...

Tá tudo alienado para não levantarem questões, chatearem Governos..
Os Governos devem ter medo das pessoas, não o contrário.
Vidas ocupadas com créditos, telemóveis, carros carros, enterrados em dívidas..
Assim ninguém quer fazer revoluções, tem medo de perder o que tem e o que finge ter..
TRISTE SOCIEDADE!!

Pata Negra disse...

Tiago, é bom ler-te, ler-te é ler-te mesmo! És alguém, serás alguém, todos são alguém, todos serão alguém!
Um abraço de alguém

Anónimo disse...

Saudações, Tiago!

Uma coincidência de nomes me levou ao teu blogue.
As coisas aqui no Brasil não vão muito diferentes. As famílias, cada vez mais precoces e com gerações a se confundir cada vez mais - são freqüentes tios que são mais novos que seus sobrinhos - deixam seus filhos à mercê da escola, que embora tenha o objetivo primeiro de tornar o indivíduo intelectualmente autônomo, não faz mais que entregar um conjunto de seres informes de idéias.
Segue-se conformação na empresa, na caserna, na Igreja, sem que o apreço pelo conhecimento seja incitado.
A festa é uma aspirina a provocar dores de cabeça, entretanto, há quem ache que é só para aí que se pode sair.
E os livros na estante...

Conviria perguntar a estes que mencionas:
"Você alguma vez, já se perguntou porque faz sempre aquelas mesmas coisas sem bastar?" (Raul Seixas)

Até!

B disse...

Ir na corrente ou na onda não é mau desde que se mantenha a cabeça atenta e crítica ao que fazemos. Acho que o desejo de ser diferente de tudo o resto é tão grande, que hoje em dia para se ser diferente temos de ser "normais". É estranho...
Mas é bom saber que ainda há pessoas na geração mais nova que se "auto-critica". Os tempos vão mudando mas esperemos que os ideais mais importantes não.

Anónimo disse...

Olá Tiago.
Desculpa-me por discordar contigo mas "essa gente que se arrasta" é que faz bem: aproveita a vida sem pensar no futuro.
Às vezes gostava de conseguir ser como eles.

Anónimo disse...

Adoro o texto.

Perderam-se valores, perdeu-se beleza. Hoje em dia rapariga que se preze tem que perder a virgindade antes dos 16 anos, caso contrário é considerada uma tótó, ou uma retrógada. Casais namorarem e serem fieis uns aos outros, casarem e viverem um com o outro, um para o outro ? Meu Deus tão fora de moda! O que é estiloso é andar pelas costas a comer a mulher do melhor amigo, e dar umas na secretária. Por falta de discernimento deixam-se cegar por prazeres vãos, tão vesgos, tão toscos que não sabem que o que querem é o que tem entre mãos. Depois arrependem-se, a sério . Mas a habilidade está precisamente em resistir à tentação. Porque se atingir a felicidade fosse fácil, esta deixaria de ter o valor, que nós todos sabemos bem que tem.

Perdeu-se beleza.