sexta-feira, outubro 26, 2007

Astronomia... Porquê?

Quando conhecidos me encontram na rua e me perguntam para que curso entrei e eu respondo "Astronomia", as reacções são as mais diversas e, muitas vezes, bem surpreendentes. Desde uma expressão de quem viu a Maria de Lurdes Rodrigues nua (sim, essa mesma com que vocês estão agora), acompanhada por um "Eaugh" de repúdio e enojamento, passando por um "As...como!? Oi!?" até ao muito frequente "Gastronomia!?" e o pensamento subsequente do tipo "aquele é maricas, vai para cozinheiro". O que vale, é que há uns poucos que conhecem a palavra e o curso e lá dão aquelas opiniões cientificamente fundadas do tipo "Cromo!" ou "Ah..." E naquele momento de hesitação em que parece que vão dizer qualquer coisa mais, estão simplesmente a pensar "Pobre coitado. Não tinha média para mais nada. Deve ter sido a última opção".

Depois disto, lá vem a perguntinha da praxe (e sabendo eu neste momento, melhor que nunca o que esta palavra significa): E isso tem saída? (Leia-se “isso” como "essa coisa asquerosa à qual alguns chamam curso") Eu lá respondo, peremptoriamente: Em Portugal não, mas por essa Europa fora o que faz falta são astrónomos. Não é que em Portugal haja muitos. O problema é que nem sítio para trabalhar há!

Independentemente de tudo isso, hoje em dia ninguém pode ir para um curso SÓ porque tem saída. Eu podia ter caído nesse erro, e bem posso agradecer às pessoas que me abriram os olhos a tempo, especialmente à minha namorada e também aos papás, o facto de não ter ido para Engenharia Mecânica, ou outra Engenharia Qualquer. Sim, porque engenharia está na moda. E está na moda dizer que engenharia tem saída. Até se podem formar 5 mil engenheiros por ano... Que há saída para eles todos! Acham mesmo? Acham mesmo que esses médicos e biomédicos e cardiopneumonologistas, ou neurofisiologistas, ou fisioterapeutas que estão a ser formados vão ter TODOS saída só porque estão na área da saúde? Bem podem rezar para que venha uma grande epidemia. Meus amigos, quem é bom tem saída, sempre! Quem é mau, arrisca-se a andar ao sabor do vento. A nossa sociedade meritocrática obriga-nos a ser, não dos melhores, mas os melhores, estejamos em saúde, engenharia, área de investigação, ensino, etc.

Há ainda outros factores que influenciam em muitos casos, na escolha do caso. Felizmente comigo não aconteceu isso, mas o facto é que há muita gente em Portugal que ainda tem o estigma que há cursos e profissões mais prestigiantes que outros. Médicos e advogados, por exemplo. Basta terem a licenciatura em Medicina ou Direito que são logo todos Senhor Doutor para aqui, Senhor Doutor para acolá. O Astrónomo e o Físico são aquele tipo de profissões que nem cabe no leque das profissões. "Ah, eu só Astrónomo" "Ah sim? E qual é o teu emprego?"...

É um facto que a investigação científica, nomeadamente, no campo das ciências (ditas) exactas, em Portugal, não é vista com o prestígio e a seriedade que deviam. Basta ver que um médico, sem grande esforço aufere mais de 2 mil euros por mês. Um físico que não seja brilhante, vive da esmola que a bolsa do estado dá! Escusado será dizer que se for brilhante, faz as malas e goodbye Portugal comment allez vous estrangeiro!? E depois, claro que há aquela imagem que o cientista é aquele gajo barbudo, velho e louco! Só um louco, um velho mesmo gágá, pode pensar que se pode fazer ciência (na acepção bruta da palavra) em Portugal!

Depois claro, o bom aluno, média de 19, pais ricos, da classe alta burguesa, até tem uma paixão pela cosmologia, até tem interesse pela astrofísica, até é um aluno brilhante a matemática, mas com as pressões da família, os estereótipos da sociedade (ser bom aluno sem se ir para medicina é uma oportunidade desperdiçada), o apoio que é dado à Ciência no nosso país e tudo o mais, fazem com que ele, ainda que algo relutante e duvidoso, entre para medicina.

Meus amigos, nós desperdiçamos dezenas de Stephen Hawking's e Albert Einstein's todos os anos! Podemos ter aniquilado o descobridor português da Teoria Unificadora das Forças. E, por causa disto, deitamos fora também milhares de pessoas com grande vocação para serem médicos, heróis salva-vidas, à custa de míseras décimas, por vezes! Há muita coisa injusta de facto nisto tudo, e há que se repensar muito nisto.

E tudo isto para dizer o quê? Vocês, que ainda estão no Secundário, ou até no Básico, ao fazerem as vossas opções, não olhem para aquilo que os outros fazem ou dizem ou que tem saída, mas para aquilo que vocês gostam de fazer. Acreditem no que eu vos digo. Serão mais felizes sendo bioquímicos orgulhosos do que sendo médicos frustrados. Fechem os olhos e pensem bem no vosso sonho. Concentrem-se nele, lutem por ele, e quando o agarrarem... Façam-se à vida!




Ok! Não liguem a nada do que eu disse! Não se pode acreditar no que um Astrólogo nos diz... Ah! Pois! Astronomia é diferente de Astrologia... Só para o caso de não saberem...

domingo, outubro 14, 2007

Al Gore: Prémio nobel da Paz!?

Al Gore foi nomeado prémio Nobel da Paz. As reacções oficiais deste blog, a seguir a um sonoro e interrogativo: "OI!?" foram:

"9"08yfqhudfhodakvgadhgqehdzljbvgpuaVP?AHldjvnb sjzubvpiahpncxvp nzdpuvfhdap hv!!!OI Hfdakj ngpuPi"hpUEA"
For Jesus Motherfucking Christ Sake! Até o Saddam Hussein foi mais pacífico que ele (pelo menos este ano foi!). Enfim, o ano passado estavam nomeados Bush e Blair, por isso esta academia já não me espanta nada! Mas, porque não dar o prémio ao Bono! O gajo já se anda a fazer à coisa há tanto tempo! Já era altura de lhe darem o prémio, pelo menos para ter mais tempo para fazer aquilo que realmente sabe... Dar concertos à malta!
Agora falando do Al Gore propriamente dito. Para além de andar a dar conferências de 1 milhão de euros por esse mundo, a alertar o mundo para os problemas ambientais provocados essencialmente por compatriotas dele, o que é que o tipo faz pela paz? É mais um dos hipócritas engravatadinhos que passeiam os seus sapatos engraxados pelo nosso chão imundo.
Enfim, espero que o homem faça por merecer o prémio.

(Nos comentários, desta vez, pede-se ao leitor que faça uma pequena composição a dizer o quanto gosta e admira (ou não!) o novo prémio Nobel da paz. P.e.: Não gosto do Al Gore, porque os boxers dele são de uma fibra sintética, em cujo fabrico são emitidos 30 Kg de CO2)

domingo, outubro 07, 2007

Evolução, o Homem, o Poder e a Máquina

Tudo, no Universo, se organiza de forma estruturada e hierarquizada, dos processos mais simples, aos mais complexos, da escala subatómica à imensidão do cosmos. Todos os processos ocorrem, também, de uma forma determinada e previsível, por exemplo , sabemos que dois corpos com cargas eléctricas iguais exercem sempre uma força repulsiva entre eles, e que dois corpos com massa exercem uma força atractiva entre eles, sempre igual ao produto da massa entre eles vezes a constante de gravitação G e a dividir pela distância ao quadrado. Sabemos também que uma molécula de água é sempre constituída por dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio.
No entanto, no Universo, tudo tende a ficar mais complexo, e isso é notório, principalmente, em termos cronológicos. No início, no princípio de tudo, existia apenas a sopa cósmica, um aglomerado enorme de partículas subatómicas em grande actividade cinética, e energia. Mas a temperatura foi arrefecendo, e apareceram os primeiros núcleos atómicos. Só mais tarde, se lhes juntaram os electrões, e apareceram, então, os átomos mais simples: de Hidrogénio, Hélio e Lítio. O Universo expandia-se, e a sua complexidade aumentava também. Fez-se luz! Surgiram as estrelas, depois as galáxias e, um sem número de corpos, ainda muito estranhos para nós. E foi então que, seguindo essa lógica de complexização de processos, surgiu o sistema Solar, de entre milhares de milhões de sistemas, de milhares de milhões de galáxias, e surgiu a Terra, o "Terceiro calhau a contar do Sol".
No princípio a Terra não passava de uma bola de rocha efervescente, expelindo vapores, gases tóxicos e magma. Tudo pareceria, aos nossos olhos subjectivos, desordenado, confuso, apocalíptico e simples. Mas compare-se a estrutura complexa de um mineral, a um simples núcleo atómico, e apercebemo-nos da tanta evolução que já se passara. Compare-se a simplicidade de um mineral à complexidade da vida e vemos que ainda havia um longo caminho a percorrer... Surgiram as primeiras bactérias, depois, muitos milhares de milhões de anos mais tarde, os primeiros organismos pluricelulares, e, sensivelmente, uns tantos milhares de milhões de anos depois, surge o Homem.

Se se repararmos bem, o Homem não passa de um conjunto descomunal desses mesmos processos simples e determinados, que já referi. Atenção, a matéria que nos faz é tão boa ou tão má como a que compõe uma poça de lama (e uma poça de lama é um sistema extremamente complexo!). Os nossos electrões, protões e neutrões são exactamente iguais a todos os outros e as forças em nós exercidas são também as mesmas quatro fundamentais1 exercidas sobre todos os outros corpos. Mas há uma diferença. A complexidade na organização dos processos do homem é tanta e tão diversa, que aqueles processos tão simples deram origem a um sistema tão complexo, diverso, que se tornou completamente imprevisível, ou seja caótico!
É então, que esse ser caótico, começa a desenvolver a habilidade de criar coisas novas e vai desenvolvendo e construindo um novo mundo, tanto, ou mais caótico, que ele. Por ter essa nova habilidade, por ser tão complexo, começa a desenvolver em si, uma noção de controlo e poder. Uma noção, ilusória , de que pode criar, desenvolver e controlar tudo à sua volta. Mas que controlo, que poder é este que não conseguimos evitar algo que aos olhos da natureza é muito mais simples que a vida, a morte?
E, o Homem também se desenvolve e cresce com este novo mundo, tem também a capacidade de se auto-desenvolver, pagando, no entanto, o preço de ficar dependente, das suas tão preciosas coisas. Sim, tudo o que nos rodeia e que nós construimos, por mais estranho que nos pareça, são coisas, como todas as outras, têm tanto valor como uma pedra e são muito menos importantes que uma estrela. Mas nós, seres tão superiores, tão controladores, na nossa arrogância, esquecemo-nos que estamos dependentes dessas coisas e, então, desenvolvemos coisas cada vez mais complexas. Sentimos que somos agora nós que desempenhamos as funções que a natureza, o Universo, desempenhou durante 13 700 milhões de anos! Não estaremos, antes, a desempenhar as funções que o Universo deixou para nós?
Assustador!? Claro! Estamos tão seguros de nós, do nosso poder, do nosso domínio, que nos esquecemos de tudo o que nos trouxe até aqui, de tudo o que nos rodeia. É também esse poder, essa ambição, arrogância e ganância que nos leva aos ódios, às disputas, à violência, à guerra... Pode-nos levar à nossa auto-destruição!
Mas foi também essa ambição que nos fez saltar do fogo para a roda, da roda para a roda dentada, para a máquina a vapor, para a electricidade, para a computação, para a robótica. E agora, temos robots que constroem robots, programados por homens é certo, mas, vejam, já somos capazes de criar coisas que constroem outras coisas. E depois, vem a velha questão: A máquina ganhará a capacidade de se desenvolver sozinha, (sem a necessidade do Homem, saliente-se) e tentará tomar o "poder" que o Homem detém há milénios?

Penso que não. Porque é que o Homem luta? Porque é ambicioso, tem sede de poder. Mesmo que se programe a máquina para funções destrutivas, a máquina não tem desejo de poder, ou seja, destruirá apenas porque a programaram para tal. Não ambiciona chegar ao poder. É algo que não se pode programar, nem se consegue desenvolver num autómato.
No entanto, ironicamente, o Homem já deu o poder à máquina. Na nossa dependência tão forte das coisas que críamos, há muito que entregámos o poder às máquinas. Nós precisamos de máquinas não só para os cálculos complexos, mas para coisas tão simples como nos deslocarmos, nos divertirmos, para trabalharmos, para fazerem as nossas roupas, para limparmos as nossas casas, para lavarem as nossas roupas, para conservar e fazer a nossa comida, para comunicarmos. Já viram que, sem sabermos, sem haver a tão recorrentemente enunciada, guerra do Homem vs Máquina, as máquinas nos ganharam o nosso adorável poder?

Perdemos, meus amigos, nós perdemos porque fomos ambiciosos demais e, então, sacrificámos algo que julgávamos impossível nos tirar, Nós sacrificámos a nossa liberdade à tecnologia. Vendemos, aquilo que temos de mais parecido com o poder, para nos tornarmos mais "evoluídos" e "desenvolvidos". Por isso, nós não nos paramos de surpreender. De tão complexos e imprevisíveis que somos, somos a espécie mais abominável à superfície da Terra, continuamos no entanto, a acharmo-nos a espécie mais adorável e perfeita... Quando, no entanto, não passamos de CAOS!!!

terça-feira, outubro 02, 2007

Uma sociedade despesista e anti-ecológica

Algo no seguimento do post anterior, em que referi que esta é sociedade capitalista, despesista e anti-ecológica, vou hoje apresentar alguns exemplos, que vão de encontro a isso, ou seja, casos, geralmente de muito simples resolução, em que, por preguiça ou razões económicas, não se reduz drasticamente a emissão de poluentes.
Por exemplo, já viram a quantidade de embalagens que os produtos tecnológicos trazem? Um MP3, um simples leitor de música MP3, de dimensões aproximadas 60x30x10 mm, vem numa embalagem de cartão que, à vontade, tem 150x100x35 mm, mas claro, encaixado numa caixa de plástico duro, com as mesmas dimensões. Se trouxer uns fones (se não trouxer, temos de os comprar à mesma), estes vêm dentro de uma embalagem de plástico de bolhas de ar, e se for preciso com mais uns plasticozinhos desnecessários a envolver. Como se não bastasse vem com um livro de instruções, que como sabemos, em 99% dos casos nunca é aberto, e, que, poderia ser facilmente disponibilizado em formato .pdf na internet.
Bem, mas isto, meus amigos, não é nada! Vejamos uma impressora. Ainda no Domingo estive a desembrulhar e a instalar a minha nova impressora. Vamos ver os artefactos que eu consegui extrair de lá. Então, temos uma embalagem de cartão, onde vem a impressora, dois pedações de esferovite para a acomodar, um plástico para a proteger, mais uns não sei quantos plásticos, borrachinhas e acetatos a proteger o scanner, o painel de controle e a saída do papel, mais um plástico para o cabo de alimentação, mais um livro de instruções (impresso em 8 línguas!), que não podia deixar de estar embrulhado em mais plástico! Trazia também dois cartuchos, dentro de uma caixa de cartão, embrulhados em plástico e com um livro de instruções maior que eles. Somem estes resíduos todos, mais os gases emitidos para produzir estes resíduos, mais as árvores que se deitaram para tanto papel e verão que uma simples impressora, ainda que multifunções, tem uma pegada ecológica* que nunca mais acaba!
Mas, e passo a citar o Diácono Remédios, havia necessidade? Porque é que as impressoras não vêm "só" na caixa de cartão? Para quê tanta tralha? O que é que a gente faz aos plásticos e à maioria das caixas? Lixo! Ou reciclagem, que ainda assim, não recicla nem de perto nem de longe 100% do produto. Sim, está bem. Para passar do produtor, para o distribuidor, para o revendedor, para o comerciante e para o consumidor intacto. Mas, e já agora, já viram a quantidade de CO2 produzida pelos transportes na distribuição dos produtos? Mas que grande pegada! Não haverá formas mais simples e menos poluentes de fazer chegar aos consumidores os produtos, saliente-se, intactos? Quer dizer, quero crer que as redes de distribuição trabalham da forma mais eficiente, mas não me espanta que um produto fabricado, por exemplo, na Azambuja, tenha que ir a Lisboa, para ser vendido em Santarém, senão mesmo na Azambuja!
Mas, quanto aos resíduos gastos para usar um produto tecnológico, acho que temos estar todos de acordo, que pelo menos os livros de instruções, pelo menos nas 8 línguas, se dispensavam. Numa era em que tudo é informatizado, e em que se fala tanto no aquecimento global, os livros de instruções (essas bíblias do conhecimento moderno) de material, ainda por cima tecnológico, só podem ser em .pdf!
Mas, enfim, tanta coisa que devia ser óbvia, lógica e evidente e que não o é! Acabo como o último post: Só espero que não abramos os olhos tarde demais...
Pegada ecológica -
exprime a área produtiva equivalente de terra e mar necessária para produzir os recursos utilizados e para assimilar os resíduos gerados