sexta-feira, junho 23, 2006

A velha questão da educação

Hoje terminaram as aulas para os 1º, 2º e 3º Ciclo, apenas os alunos do ensino secundário têm agora exames, portanto, pode-se dar o ano lectivo por terminado.
Como tal, o post de hoje é sobre a educação, ou a falta dela, no nosso país. E que ano melhor podia ter sido este para nos dar a verdadeira dimensão deste problema! Felizmente não houve as atarantações da colocação dos professores que houve no ano passado, mas entre insultos da ministra da educação e grandes confusões e baralhações nos novos currículos do secundário houve de tudo... o que não devia haver!
Bem, eu tenho uma opinião muito clara sobre esta matéria: Na educação, assim como em quase tudo no nosso país, falta sustentabilidade. Passo a explicar, os programas e as ideias do governo, podem até ser polémicas e duvidosas, mas não duvido que sejam por boa intenção, contudo, a sua aplicabilidade é surreal. Por exemplo, aulas de inglês e informática para os alunos do 1º ciclo, escola até às 5h30 da tarde. Respondam-me, quantas são as escolas que têm real capacidade e condições para estas medidas se realizarem? 20%, se tanto. E claro como solução: Fecham-se aquelas que não reunem condições. Resultado: alunos de 6,7,8,9 anos a fazerem viagens diárias de 20 km ida e volta, só para terem acesso a um direito consagrado na nossa constituição: a educação. Depois há a tal questão do insucesso, a qual os governos adoram resolver, não aumentando as exigências no 1º ciclo, mas baixando-as daí para a frente, ou seja, cai-se no facilitismo, mas mesmo assim, os maus alunos continuam com maus rendimentos e quando lá conseguem passar "por baixo da mesa" e completam o 12º ano (sabe Deus como) saiem cá para fora com um diplomazinho todos sorridentes, mas burros! Burros que nem uma porta!
É por isso que em questão de educação, continuo a preferir o velho modelo Salazarista, em que só os bons passavam, e os maus tinham de se esforçar se não queriam ir para as obras! Hoje está tudo mau, porque é tudo diferente: Levam-se os maus ao colo, fazem-se planos de recuperação, apaparicam-se os meninos, e os bons, aqueles que podiam vir a ser grandes génios, vêm a sua inteligência a ser suprimida por um regime facilitista e anti-progressista desfazado de uma realidade, nomeadamente, laboral cada vez mais difícil e exigente, onde finalmente é feita justiça: Só os bons sobrevivem!

6 comentários:

Beko the Great disse...

obrigado pelo teu comentário éowyn, sem dúvida que por esses colégios e universidades privadas o que mais se vê são pessoas sem mérito e inteligência e muito menos aptidão a comprar os cursos. E sem dúvida que aquilo que o regime salazarista tinha de bom como a educação foi também alterado, sendo que algumas coisas piores como a manipulação da imprensa, etc. continuaram, apenas de forma disfarçada. (-;

Anónimo disse...

Enquanto ocupam o tempo a jogar Risk para decidirem que escola fechar esses senhores deviam era falar seriamente e tomar decisões sobre o Processo de Bolonha que está a prejudicar a vida a milhares de estudantes por ainda não se terem tomado!
Mas é o país que nós temos.

BTW bom blog :)

Anónimo disse...

Quando vi este post sobre os problemas da educação em portugal não consegui ficar indiferente, porque realmente o nosso sistema educativo é algo mau de mais... Pobre do país que pensa que todos têm de ser "senhores doutores"...
Primeiro, uma correcção: não são só os alunos do ensino secundário (11º e 12º anos) que vão ter exames, mas também o 9º ano a Português e a Matemática (com um peso de 30% na nota final).
Começas por falar em "educação, ou a falta dela": é o primeiro problema da escola em Portugal. A educação é uma ocupação primordial da família. Na escola, aprendes talvez certos procedimentos sociais que é impossível em casa, mas se alguém vai para a escola sem o mínimo de regras de conduta vindas de casa, nada feito... E depois há violência na escola...
Depois falas nas colocações (que apesar da poeira que querem levantar, foram bem conduzidas) e nos currículos do secundário: pois bem, os currículos estão de tal maneira impregnados pelo construtivismo e pela ideologia que é (quase) impossível trabalhar com eles... E depois ninguém sabia quais as consequências práticas que eles iam ter, pois não se tinham dado ao trabalho de ler a reforma do ensino secundário... É por isso que ainda hoje, nós, alunos do 11º ano, vamos dia 27 de Junho para a sala de exame, sem qualquer tipo de ideia sobre o exame (a não ser o óbvio, e que já estava mais do que prometido: sai matéria dos dois anos, 10º e 11º...).
De seguida, referes uma palavra importantíssima: "sustentabilidade", que aqui anda de mãos dadas com a estabilidade. É preciso pensar uma educação em Portugal que não gaste quase 6% do PIB e tenha resultados quase nulos... E é preciso que os currículos tenham estabilidade: para ter uma ideia, em Portugal, durante o tempo da ditadura, os programas, apesar de pequenas reformulações (especialmente nas ciências naturais), mantiveram a mesma base durante 50 anos!
No encadeamento da ideia referes as medidas tomadas pela Ministra da Educação no que concerne ao 1º ciclo (escola primária): neste caso, aplica-se o ditado "De boas intenções está o inferno cheio". Medidas acertadíssimas o Inglês e a Informática (que o são) mas que por falta de disponibilidade financeira não podem ser concretizadas... Talvez se cortassem o ordenado aos professores e pedagogos que invocando sucessivos Decretos-Lei e Portarias estão sentados a uma secretária, a fazer nada...
Falas ainda nos transportes escolares e tens razão. Vou dar o exemplo do meu distrito: em Bragança, com uma população muito dispersa, a maior parte dos alunos demoram cerca de 1 hora a chegar à escola. Vêm em autocarros cheios até dizer chega. Chegam enjoados e com sono. A vontade de faltar à aula é muita. Se não estou na aula, estou no café ou nas traseiras da escola. E assim sucessivamente, num ciclo vicioso que conduz ao insucesso escolar. Precisamos pois de uma escola de proximidade: escolas mais pequenas, com menos alunos e turmas mais pequenas, de modo a poder oferecer uma escola de qualidade. Claro que é preciso dinheiro: pois vá-se buscar aos demagogos do ministério, que nunca viram um aluno (a não ser o seu filho que anda num colégio privado em Cascais) na vida...
Quanto ao "facilitismo" que referes, é decorrente da doutrina que defende que o aluno é o "centro", que ele deve ser ajudado e apaparicado de todas as maneiras e feitios... Vários professores desencantados já comentaram comigo que muitas vezes acabam por passar o aluno porque o Ministério impõe uma burocracia paralisante, ao estilo soviético, para reprovar um aluno. Outro exemplo é a professora de FQ que não sabia o que era a lei da queda dos graves: pensava a senhora que dois corpos caem em instantes diferentes devido às suas diferentes massas, quando o que se verifica é a acção da resistência do ar (pois no vácuo eles caem ao mesmo tempo). E no entanto a professora justificou a sua acção com os "objectivos" e "competências" a desenvolver no programa da disciplina! Outro exemplo ainda mais flagrante: um professor foi ao cúmulo de afirmar num livro se "4x1 é igual a 4 ou se isso é uma manobra de exploração capitalista"... Revelador...
Em relação ao "passar por debaixo da mesa", eu acrescentaria um outro conceito: "inflação das notas". Estas doutrinas são muito seguidas pelos colégios particulares como modo de chamar mais alunos. Eles são empresas, têm de ter rendimento. Como é óbvio, há boas e más escolas públicas, há bons e maus colégios. Mas uma tendência global que se revela preocupante é passar os alunos em dificuldades e ser injusto com os outros. Exemplifico: é mais fácil dar a um aluno com média de 9 um 10, do que a um aluno com média de 19 dar um 18. Por exemplo na minha turma, houve pessoas com 4 negativas no 2º Período que passaram calmamente para 2 negativas no 3º Período, concluindo a frequência do 11º ano (ainda faltam os exames...). No meu caso, armou-se balbúrdia porque estava entre o 18 e o 19 a várias disciplinas, e a minha stôra de Filosofia, em vez de ser politicamente correcta e dar-me 18, decidiu dar-me 19, levando os outros professores das disciplinas terminais a dar-me também 19 (embora contrariados). E é isto que me desmotiva a mim e a qualquer bom aluno de uma boa escola (seja ela pública ou privada): aqueles meninos que andam "naqueles" colégios, que fazem pontes quando querem e que tiram 20 a tudo, sem saberem o que quer que seja, só porque são filhos de quem são... Mas também pergunto: estaria eu disposto a trocar as boas bases científicas que adquiri pelos 20? Se calhar no país da mediocridade que é Portugal, é o que vale a pena...
Concluis comparando o sistema actual com o salazarista. Vale a pena referir que o sistema salazarista assentava em dois pressupostos básicos: avaliação rígida e respeito pelos professores, que estavam acima na hierarquia. E quanto a isto tenho a dizer: é necessário haver mais exames durante a escolaridade, pois só através de uma avaliação rigorosa se consegue realmente separar o "trigo do joio". É preciso que os programas "puxem" mais pelos alunos, que não façam deles uns burrinhos acríticos, mas sim portadores de um espírito crítico. E isto deve-se ao facto de os políticos saberem que nós somos a geração do futuro e que podemos mudar as coisas se formos críticos e acutilantes: podia-se acabar a sua bela reforma ou a bela mordomia... E também porque os exames, ao serem nacionais, podem prejudicar os filhos dos senhores doutores, que apesar de terem 20, não têm bases...
No que respeita ao problema dos professores, para mim foram eles que "cavaram a sua própria sepultura": ao compactuarem com as políticas erráticas do Ministério da Educação (vejam-se os exemplos que eu dei atrás da Lei da queda dos graves e do 4x1), sim, porque a maioria quer é fazer o menos possível, não são agora respeitados. E depois vêm com um cinismo extraordinário manifestar-se. Para quê? Para que se continuem a avaliar uns aos outros dando "Satisfaz" a todos os colegas, safando os maus e prejudicando os cada vez menos professores dignos desse nome? Os professores deviam era ser avaliados por exames elaborados por todas as faculdades, para avaliar os seus reais conhecimentos cognitivos! Sem bons professores, não haja ilusões: a nossa geração não irá vingar no mundo do trabalho!!!

P.S.: Desculpem o testamento (literalmente)... Deve ser por estar em véspera de exame...

Beko the Great disse...

Bem! Obrigado pelo teu (extenso) comentário. Concordo contigo em quase tudo, só acho que generalizar a falta de qualidade dos professores é exagerado. Sei que há professores maus e professores injustos, contudo, não são assim uma maioria aqueles que querem fazer cada vez menos. Talvez essa ideia que tens do ensino se deva ao lugar onde vives. É que apesar de se falar muito em descentralização, é um facto que a generalidade dos bons professores não escolhe sítios como Trás-os-Montes, Alentejo e Beira Interior para dar aulas. Depois claro, só os maus ficam nessa zona...

Anónimo disse...

É verdade que na minha zona há professores relativamente piores do que no resto do país (aliás, professores e não só...) Mas até não é esse o meu caso: há 2 anos, a turma de 12º da minha stora de matemática foi a melhor no exame nacional; o meu stor de FQ teve das melhores médias a nível nacional o ano passado na sua turma de 12º (acho que nenhum aluno dele tirou negativa no exame de física); o meu stor de BG (Biologia e Geologia, que nome...) preparou uma visita de estudo sobre a Geologia de Trás-os-Montes com uma Professora Doutora da Faculdade de Ciências do Porto... Mas mesmo estes bons professores que eu tenho acabam por ser pressionados pela restante comunidade escolar... E depois acabam por se "defender". Cá diz-se "20 é para Deus, 19 é para o professor e 18 é para o bom aluno"... É esta mentalidade que eu condeno, assim como o facto de para 50% de professores bons no país haver outros tantos maus, quando todos deviam ser competentes, sábios e saber manter a autoridade na sala! Em suma, ENSINAR! (que é uma palavra que NUNCA aparece no ESTATUTO DA CARREIRA DOCENTE, o que atinge as raias do surrealismo!)

Anónimo disse...

WOW. Concordo plenamente. A educação no nosso país... Só há uma palavra que a pode descrever: PALHAÇADA!!
É incompetência por tudo quanto é lado!
Também acho que as exigências deviam ser maiores no 1º ciclo do ensino básico para delimitar "quem é inteligente" de "quem é burro".
Os inteligentes seguem para os cursos de inteligentes. Os burros (que muitas vezes são burros, mas melhores que os inteligentes em outras coisas mais práticas) vão para cursos "de burros" e RESPEITA-SE O BURRO PORQUE ELE PODE SER ÚTIL EM COISAS EM QUE OS INTELIGENTES NÃO SÃO.
MAS NÃÃÃO!!!! Os burros são gozados. E se o professor diz "o seu filho é burro" os paizinhos, que querem sempre o filhinho doutor, fazem logo queixa dele!
Depois todos se tornam doutores, embora uns nem escrever saibam, e os ucranianos vão para as obras, ocupar postos de trabalho onde poderiam estar muitos portugueses sem queda para os estudos.

Eu por acaso senti me revoltado porque no dia antes do meu exame nacional não havia informaçao suficiente:
nada sobre as implicações das fases; prova modelo, etc
As informaçoes plos vistos chegaram no dia do exame. Até fiz um post sobre isso:
http://scapegoat.blogs.sapo.pt/3503.html

Fica bem e continua a fazer anti-posts.