terça-feira, setembro 26, 2006

Uma tarde nas compras...

Dona Florinda, 49 anos, casada vive numa aldeia no interior do país. Dona Elisa, 47 anos, também casada vive na cidade de Lisboa. Ambas esta tarde vão comprar pão. Dona Florinda, como sempre vai à mercearia da Dona Arminda. Dona Elisa vai a um dos "Shoppings" do senhor Belmiro...
Dona Florinda chega ao estabelecimento da Dona Arminda, cumprimenta-a e vai logo direito ao assunto: - Vinte papos secos.
Dona Elisa ainda está no trânsito no carro conduzido pelo marido, ao fim de 20 minutos no trânsito finalmente fica à porta do Centro Comercial. Ela conhece o sítio, não é estranha à "casa" e vai logo directa à padaria que fica em frente ao fundo. Contudo... "Ah! Que belo casaco! Vou experimentá-lo!" Depois de o experimentar decide ficar com ele, assenta que nem uma luva, "Vou fazer inveja às minhas amigas todas!".
Entretanto na loja da dona Arminda, Dona Florinda já ficou a saber que o filho do primo Acácio é bom de estudos e vai para engenheiro: "Hmm, pode ser que chegue a primeiro ministro", congemina a Dona Florinda. Ambas se riem.
No Shopping, Dona Elisa fica encantada agora com um peluche engraçado que vê. Era giro dá-lo à sobrinha mais nova, pega nele e põe-o no carrinho. Mais à frente. "Oh! Que laranjas tão apetitosas, e estão em promoção". O gesto que se seguiu já é previsível. A padaria já estava próxima, mas "Que lindas flores! Ficavam perfeitas na minha mesa da sala". E pronto, para o carrinho! Finalmente lá tirou um saco de plástico com os 20 papos secos que queria, e porque não um pão-tigre tão fofinho e com tão bom aspecto? Também vai.
Dona Florinda conta agora as aventuras do marido do fim-de-semana anterior, Dona Arminda entoa agora alguma política... A do senso comum.
À saída Dona Elisa não resiste às caixas de bombons e aproveita para levar as revistas cor-de-rosa da semana para se actualizar...
- 172,55€ - robofala a caixa.
- O quê!? Não ouvi bem.
- 172,55€ - robofala a sínica caixa.
- Ok, já percebi. É muito dinheiro!
- A vida está cara - roboresponde a caixa com um sorriso hipócrita.
- Posso pagar com cartão?
- Pode pagar com cheque em dinheiro ou em cartão - roboconstata a caixa.
- Não tem saldo no cartão - robolamenta a caixa
Aquilo que a Dona Elisa viu de seguida foi algo transcendente. Suspensa no céu uma placa mágica dizia "Quer dinheiro já? Cofidis, o crédito por telefone!" E enquanto o Diabo se espreguiça (porque não foi tão pouco tempo como esfregar um olho) Dona Elisa já tinha 200 euros no seu cartão! Assim pode pagar a exorbitante conta do supermercado.
- Obrigado! Bom dia! - robosorriu a caixa.

Para aqueles que não perceberam este texto não se trata de uma mera comparação entre o comércio tradicional e o comércio actual, trata-se também de uma crítica à sociedade de consumo. Uma sociedade que não olha a meios para atingir os seus fins e que se aproveita das fraquezas e até das qualidades do ser humano para levar avante as suas preversas intenções. Basta ver quando a Dona Elisa é levada, pelo amor à sobrinha, a comprar um peluche, ou quando para fazer inveja às vizinhas compra um bom casaco. Por outro lado, na terra da dona Florinda o comércio acaba por ser o pretexto para uma boa conversa para arejar enquanto que no centro comercial as pessoas entram para um sítio bem fechado para só sair com as mãos cheias (e os bolsos vazios!).
Como vemos, a sociedade de consumo é manipuladora e desrespeitadora da opinião ou escolha individual, a pergunta que se faz é qual? e não, preciso ou não preciso? Podemos até dizer, sem mentir que esta sociedade cria necessidades fazendo com que tudo seja preciso... Tudo contribui, o marketing, a cultura de massas, mas acima de tudo são os defeitos, qualidades e sentimentos do Homem que o fazem alinhar na sociedade consumista.
Agora a escolha é nossa, somos homens racionais, pensamos. Vamos alinhar nesta sociedade irracional e manipuladora? Vamos continuar a consumir e deixar que a sociedade nos consuma? Ou vamos lutar contra isto dar um pontapé e mudar o sistema? Talvez seja só preciso um primeiro passo...

5 comentários:

Anónimo disse...

ya, eu não diria mais nem melhor! É verdade tudo o q dixeste e tb é verdade q, infelixmente a criação desse hábito consumista nos corrói e à sociedade de uma maneira quase imparável! É necessário q nos insurjamos contra isso e, que, sobretudo sejamos os 1ºs a implementar aqueles valores q deviam já ter sido implementados há mto...mx q se tão a perder!
Devemos, obviamente lutar contra isso...!!!

E...viva a liberdade!!! :)

LOL, desculpem mx não konsegui evitar...foi um aparte necessário..

Ester

boa noite! ;)

mac disse...

De certeza que a maioria que está a ler este post, tem um dos últimos telemóveis da moda, ou mp3. Até que ponto seconsegue ficar indiferente a este fenómeno? Por mais que se tenha a consciência de que estão a servir-se de nós, todos nós caímos na esparrela. Mais que não seja a provar a última cerveja da Super Bock ou o novo gelado.

Beko the Great disse...

concordo contigo, mac, e isso vai ser um assunto que posteriormente irei abordar, ou seja, a forma como a sociedade tecnológica impulsiona a sociedade de consumo e também a forma como a sociedade tecnológica está dependente do capitalismo e do consumismo...

Anónimo disse...

É realmente assustador.

Eu li uma vez numa revista que, em relação ao consumismo, se hoje está mau, no futuro será bem pior já que a publicidade e o consumismo terão o apoio das novas tecnologias para serem espalhadas.

Imaginem só: Vêem um documentário sobre carros híbridos na vossa televisão. Imaginem agora que estão a passear na rua e de repente recebem uma SMS a dizer que num stand a apenas 2 quarteirões de distância estão carros híbridos a "preços de sonho".
O que aconteceu? Simples. O stand d automóveis obteve (através de negócios com a TV cabo ou outro fornecedor de televisão, por exemplo) a informação do programa que vocês viram e, sentindo a proxmidade do vosso telemóvel (sim, no futuro os telemóveis terão dispositivos de detecção; as operadoras telefónicas poderão vir aceder aos vossos telemóveis) enviou vos uma SMS automática, um chamariz.

Quando usamos as tecnologias, damos muitas informações sobre nós mesmos. Num fuuro próximo quem sabe se essas informações não serão trocadas entre empresas a fim de nos manipularem melhor.
É um futuro triste. É um futuro perigoso. Principalmente num país como este cujos habitantes, muitas vezes, estão dispostos a pagar 50 cêntimos para saber o que se vai passar no próximo episódio da novela. -.-"

Bom post; Fica bem.
"Bifes para todos!"

Anónimo disse...

Embora seja impressionanteo nível de consumismo presente na nossa sociedade, actualmente é também incrível o número desses anúncios espectaculares que depositam do dia para a noite uns milhares de euros nas contas bancárias de muitos portugueses!
A própria estratégia dessas empresas de crédito é de carácter consumista!
Todo um esquema cada vez mais viável, para os monopólios capitalistas.
Quando é que será que a Sr.ª que foi ao shopping, vai voltar para trás e por o urso de peluche na prateleira?