Retomo a actividade neste blog, para falar do meu 25 de Abril, não o de 1974 (este muito antes sequer dos meus pais se conhecerem), mas o de ontem, 34 anos depois da dita revolução dos cravas...Cravos, quero eu dizer! (por vezes a boca foge-me para a verdade).
Levantei-me por volta das 10h30, com a fanfarra dos bombeiros a tocar lá fora na rua, dando os "vivas" à revolução de Abril e, liguei a televisão na RTP, para ouvir e ver a sessão solene na Assembleia da República... Ouvir o que a nossa digníssima e excelentíssima classe política tinha a dizer acerca de um marco tão importante para a nossa história.
Já apanhei a meio, o discurso do deputado do PP, o mais jovem por sinal, esse mesmo partido que chegada esta altura, ainda não decidiu se há de festejar a democracia, a liberdade, ou se há de chorar a perda dos sacros valores salazaristas, a perda de posses da igreja e a perda de importância dos militares. Depois veio o deputado do PSD, o mais jovem também, falar de "iniquidades" blá blá..."desresponsabilização" blá blá... défice blá blá... "ambiguidades" blá blá..."valores da democracia" blá blá... "liberdades individuais" blá blá... e um demais número de palavras vazias, inócuas e sem qualquer sentido para o mais comum dos portugueses. Um discurso com algumas postas de pescada assim para o ar, a ver se a corrente de ar da assembleia as leva para o sítio certo, mas pouco mais do que as ténues críticas algo rebuscadas e descontextualizadas de um partido que continua à procura da melhor maneira de fazer oposição às suas próprias ideias...
A seguir subiu ao palanque o senhor deputado do PS com o mesmo discurso inócuo, vazio, lembrando um 25 de Abril que parece ter sido já há mil anos atrás, com um significado meramente histórico, mas muito pouco prático, mas houve algo que se salientou do discurso deste: "Esta é uma democracia em que até a existência de partidos anti-democráticos é permitida". Bom, valha-nos ao menos a sinceridade e honestidade de um político, algo que hoje em dia é muito raro, então assumir os nossos próprios defeitos é, de facto, um gesto notável!
Depois começou a falar o excelentíssimo presidente da Assembleia da República, e, o seu discurso, foi, utilizando palavras politicamente soantes, deveras aborrecido e entediante, traduzindo, foi uma seca tal que desliguei a TV e já nem vi os discursos do Presidente da República (olha outro!) dos Verdes, do Bloco e do PCP, partidos claramente mais afectos à revolução de Abril, e, segundo vi no resumo à noite no Telejornal, bem mais críticos... Só para variar!
Comum aos dois partidos maioritários, a saudação por se ter assinado dois dias antes um tal Tratado de Lisboa, que pelas palavras dos mesmos vai reforçar a posição de Portugal na Europa e no Mundo, mas que, na minha opinião, só vai aumentar ainda mais a mobilidade de políticos portugueses de tachos no nosso país para tachos na Europa, e dando uns pulinhos na ONU, na NATO, e outras que tais... Mais gravoso que isso, é o facto de o Tratado ser algo obscuro para a maioria dos portugueses, e, de não se ter feito sequer um referendo sobre algo tão importante e, citando, o nosso querido Primeiro-ministro "um marco histórico na via do país e da Europa"... Se é assim tão histórico, comemoramos a nossa liberdade, porque não se pergunta ao povo (o tal que mais ordena) se queremos MESMO esse tratado...
Outra questão, talvez a que os meios de comunicação social deram mais destaque, foi o desinteresse dos jovens pela cidadania e pela política... O governo e o PR foram dos mais críticos nesta matéria... Se por um lado, dizem que há que cativar os jovens a terem uma vida activa, social e politicamente, por outro lado, dá jeito que a juventude esteja um pouco à parte destas questões, não vá agora surgir uma geração de jovens revolucionários que possa dar cabo deste sistema.
Bom, mas se há muita negligência por parte dos partidos, há também muita ignorância em relação à nossa história (bom, é mais que sabido que as aulas de história não são conhecidas por serem as mais cativantes), por parte dos nossos jovens, uma geração que se diz "rebelde", mas que, se mostra muito vazia de ideias e ideais, uma geração que a meu ver, nunca houve outra com tanto, mas também nunca houve outra com tão pouco, ou seja, num país em que os pais dão tudo de mão beijada aos filhos, em que, felizmente vai havendo posses para sustentar os estudos, as saídas à noite, os excessos da vida, num país em que é quase preciso um requerimento para chumbar um aluno, e em que se proíbe um jovem são, com corpo, sem grandes possibilidades quer mentais, quer económicas de prosseguir os estudos, de trabalhar, a minha geração, nunca teve muito por que lutar, nunca teve muito que trabalhar para alcançar uma conquista...
Só que, a nível internacional, infelizmente os tempos são de mudança, e, o país, e muito mais esta juventude, não estão preparados para enfrentar a mudança drástica político-económica que o mundo se prepara para atravessar. Há que repensar se queremos que esta seja a revolução dos cravas, ou se de facto, está na altura de agir, de nos libertarmos, de vez!Libertar-mo-nos de todos os tabus! Libertar-mo-nos do fantasma do Botas de Santa Comba! Libertar-mo-nos das malhas de um sistema político cada vez mais podre, e empedernido pela corrupção, o tráfico de influências e a hipocrisia! E porque não, libertar-mo-nos um pouco desse polvo que é a Europa, antes que seja tarde de mais e caiamos no abismo, arrastados por essa corrente de um capitalismo cada vez mais espremido e com mais buracos à vista!
O meu 25 de Abril acabou no teatro com uma Revista do Teatro Sá da Bandeira... Ridendo castigat mores, está na altura de encararmos a sátira e as gargalhadas de uma forma um pouco mais séria, e olhar com preocupação para o estado de coisas do nosso país. Afinal, para 41% da nossa população, Salazar foi o maior dos portugueses...