Tudo começa, algures nos vales entre Tigre e do Eufrates, na Mesopotâmia. Foi exactamente lá que o Homem lançou a semente, desta árvore, à qual, orgulhosamente chamamos civilização. Ali se criou a escrita, fundamental para a evolução desde esse tempo até aos dias de hoje, e a roda. Onde ainda estávamos nós sem a roda?... Fizémos os primeiros carros movidos por força animal, construímos casas, fortalezas, cidades. Criámos as noções de arte, cultura e beleza. Começámos a formar comunidades, sociedades, desenvolvemos sistemas de organização social, as leis. Estamos agora a falar noutro contexto historico-geográfico - a Antiga Grécia, berço da Democracia, da Educação, da História, da Medicina, da Ciência, da Filosofia, pedras angulares da Civilização. A partir daí foi só aperfeiçoar o que já estava criado.
E aqui estamos nós, naquilo a que orgulhosamente adoramos chamar de Civilização. Temos computadores, onde podemos estar em contacto com todo o mundo, telemóveis que servem para estarmos em comunicação permanente com todos, temos escolas bem estruturadas e democratizadas, temos sistemas de saúde, sistemas de governo, temos transportes eficientes que nos permitem, mais do que nunca, chegarmos a qualquer lado o mais rápido possível, temos casas confortáveis onde praticamente não estamos sujeitos às intemperies, temos supermercados onde podemos obter tudo o essencial à sobrevivência, à vivência, ao bem-estar e até ao lazer! Enfim, mais do que nunca, temos tudo!
Mas, (e ainda está para nascer um post sem mas...) como conseguimos, chegar a este estado de perfeita hegemonia entre as espécies? Como conseguimos chegar a este ponto em que somos praticamente donos desta natureza que nos pôs no mundo? Primeiro, porque o Homem tem um grande defeito ou feitio que é a ganância, ou seja, nunca está satisfeito. Isto faz com que a civilização esteja em constante mudança. Segundo, porque desde os tempos mais remotos o Homem com a sua capacidade superior tem criado mecanismos que lhe têm permitido defender-se - ARMAS!
Nos primórdios da humanidade, as armas tinham o intuito de defender o Homem dos animais selvagens que habitavam as florestas. Depois, e já mesmo nessa altura, o Homem começou a precisar das armas para se defender dos outros homens. Porque lutavam os homens? Porque há guerras desde sempre? Exactamente, porque o Homem é ganancioso. Ninguém se contenta com apenas metade, quando se pode ter o todo. E é por isso que o Homem luta, pelo melhor pedaço. No início, o melhor pedaço eram as zonas de melhor caçada, depois, as zonas férteis para a agricultura, depois, as zonas com ouro e outros metais, hoje, por mais civilizados que estejamos, as guerras continuam a ser pelo melhor pedaço. Hoje em dia um bom pedaço é um que tenha muito petróleo. O grande problema, é que para além de se conseguir o "melhor pedaço", e acima de tudo, as guerras causam destruição, morte de seres humanos e o problema maior é mesmo o facto de as guerras terem evoluído ao longo dos tempos... Assim, antes, uma cidade como Atenas que demorou séculos a construir em poucos meses foi destruída. Hoje, temos mecanismos que nos permitem construir um edifício de 100 andares numa questão de meses, infelizmente inventámos bombas que num instante dizimam metrópoles! Será o preço a pagar pela Civilização? Vivermos num mundo perfeito que a qualquer momento pode desabar e desaparecer em segundos.
Por outro lado, esta coisa a que chamamos Civilização, tornou-nos dependentes de tudo... Dependentes da educação, para termos um emprego melhor. Dependentes do emprego para termos um salário. Dependentes da rotina, se queremos ter um bom salário. Dependentes de um bom salário, se queremos ter uma boa qualidade de vida... Ops! Que qualidade de vida? Sim, que qualidade de vida é esta que nos obriga a levantar todo o santo dia às 7h30 da manhã, tomar todo o santo dia os mesmos cereais que compramos sempre no mesmo supermercado, ir no mesmo carro, para o mesmo emprego, aturar o mesmo patrão, fazer as mesmas coisas, almoçar no mesmo sítio, estar com as mesmas pessoas, regressar tarde a casa para ver na televisão as desgraças do costume e ver mais um episódio da novela do costume, estar 5 minutos com a família e deitar-se porque se está exausto? Chamam a isto qualidade de vida? Eu não! Para quê? Sim, para quê estudar e ser o melhor do curso, ter sucesso no emprego, se não podemos gozar a nossa curta estadia na Terra como homens? Para quê deixar de ter de lutar pela sobrevivência se mesmo não lutando, continuamos sem tempo livre? Que Civilização é esta que cria a palavra liberdade, para nos manter presos à rotina, ao dinheiro, aos costumes sociais? Para quê? Para quê tanto esforço a criar um mundo tão perfeito, para ficarmos feitos bois a olhar para o palácio, para todas estas invenções... Sim, temos telemóveis! Sim, temos computadores! Sim, temos televisão! Sim, temos carros! Sim, temos ar condicionado! Somos mais felizes!? Somos mais felizes que os nossos antepassados que corriam descalços pelas ruas? Ah, pois! Mas esses morriam com 40 anos! Pois, agora vive-se até aos 80... 20 escravos dos pais, 40 escravos do patrão, 20 ligados à máquina... Enfim, qualidade de vida! Antes, bastava duas pessoas juntarem-se para se dar uma boa gargalhada, hoje, precisamos de ver televisão para esboçar um sorriso. Qual é o objectivo do progresso senão termos melhor qualidade de vida que os nossos antecessores? É bom podermos falar com pessoas que estão do outro lado do mundo, é bom podermos ir do Porto a Lisboa em pouco mais de duas horas, mas, será para isso necessário infestarmos o ar de Dióxido de Carbono, destruirmos a natureza? É isto o progresso? É isto qualidade de vida? É isto a civilização?
Enfim, transformámos o mundo à nossa volta de modo a torná-lo melhor. Para isso muitos sacrifícios foram feitos, ao Homem e à natureza. Hoje em dia, está praticamente tudo às nossas mãos, tudo a distância de um "clique", mas não... Não sabemos aproveitar a dádiva que a civilização nos deu e continuamos na nossa mesquinhice humana, sempre presos a algo, nunca satisfeitos. A escolha agora é de cada um. Quero viver a minha vida preso a rotinas, segundo as normas que me são impostas pelo governo, pela sociedade, pelas pessoas? Ou quero ser livre? I WANNA BE FREE!